Charles
Darwin é famoso pela prolífica obra sobre biologia. Além de publicar sua teoria
da evolução, escreveu livros sobre recifes de coral, minhocas e plantas
carnívoras. Mas o eminente naturalista fez importantes contribuições além das
ciências da vida: também foi um psicólogo experimental.
Darwin
conduziu um dos primeiros estudos sobre como as pessoas reconhecem a emoção nos
rostos, de acordo com pesquisa de Peter Snyder, neurocientista da Brown
University. Snyder se baseou em documentos biográficos inéditos, agora
divulgados na edição de maio do Journal of the History of the Neurosciences.
Lendo
cartas de Darwin na University of Cambridge, na Inglaterra, Snyder observou
várias referências a uma pequena experiência sobre emoções que o cientista
realizara em sua casa. Com a ajuda de bibliotecários, Snyder descobriu notas
com caligrafia ilegível das mãos idosas de Darwin e com a letra de sua esposa,
Emma. Embora o fascínio de Darwin com a expressão emocional seja bem
documentado, ninguém tinha reunido os detalhes de sua experiência caseira.
Agora, surge uma narrativa completa.
“Darwin
aplicou um método experimental que, na época, era muito raro na Inglaterra
vitoriana", disse Snyder. "Ele avançou nas fronteiras de todos os
tipos de ciências biológicas, mas suas contribuições para a psicologia são
pouco conhecidas.”
Em
1872, Darwin publicou o texto "A expressão das emoções no homem e nos
animais”, no qual argumentava que todos os seres humanos e até mesmo outros
animais expressavam emoções por meio de comportamentos notavelmente similares.
Para Darwin, a emoção tinha uma história evolutiva que poderia ser rastreada
através de culturas e espécies. Hoje, muitos psicólogos concordam que certas
emoções são universais para todos os seres humanos, independentemente da
cultura: raiva, medo, surpresa, nojo, alegria e tristeza.
Ao
escrever o livro, Darwin correspondeu-se com vários pesquisadores, incluindo o
médico francês Guillaume-Benjamin-Amand Duchenne, para quem os rostos humanos
poderiam expressar pelo menos 60 emoções distintas, dependendo do grupo
específico de músculos faciais. Em contraste, Darwin acreditava que as
musculaturas faciais trabalhavam juntas para criar um conjunto de apenas
algumas emoções.
Duchenne estudou a emoção através da aplicação
de uma corrente elétrica nos rostos. Ao estimular a combinação correta de
músculos faciais, Duchenne imitou expressões emocionais genuínas. Ele produziu
mais de 60 fotos de suas cobaias humanas, demonstrando o que acreditava serem
emoções distintas.
Mas
Darwin discordou. "Comecei a olhar para o álbum dos fotogramas que Darwin
tinha recebido de Duchenne", disse Snyder. “E Darwin escreveu essas notas
críticas nele, dizendo: Eu não credito nisso, isso não é verdade”.
Segundo Darwin, apenas alguns slides de
Duchenne representariam emoções humanas universais. Para testar essa ideia, ele
realizou um estudo duplo-cego em sua casa no condado de Kent, Inglaterra.
Darwin escolheu 11 de slides de Duchenne, colocou-os em uma ordem aleatória e
apresentou-os um de cada vez para mais de 20 dos seus convidados, sem quaisquer
sugestões ou questões de liderança. Então pediu aos amigos que adivinhassem
qual emoção cada slide representava. “Esse tipo de controle experimental seria
considerado rudimentar atualmente, mas foi avançado no tempo de Darwin”,
ressalta Snyder.
De
acordo com as notas nos manuscritos e nas tabelas de dados estudados por
Snyder, os convidados de Darwin concordaram quase unanimemente sobre a
felicidade, tristeza, medo e surpresa, mas discordaram sobre outras emoções.
Para Darwin, apenas os slides fotográficos de emoções básicas eram relevantes.
Darwin
utilizou os resultados de seu experimento do século 19 para melhorar a própria
compreensão da emoção e da expressão. Mas seus métodos pioneiros continuam a
ser relevantes para psicólogos atuais.
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